Estima-se que, cerca de 43% da frota dos camiões de carga registados em Moçambique, são de volante à esquerda e maior parte dos que circulam nos corredores nacionais, provenientes dos países como Zimbabwe, Malawi, Zâmbia, e outros da região, com excepção da África do Sul, são também de volante à esquerda.
Contudo, na senda da restrição de importação de veículos de volante à esquerda em 2011, o Governo, nos finais de 2017, decidiu, a partir do primeiro trimestre de 2019, proibir a circulação de veículos de volante à esquerda para os nacionais e estrangeiros, justificando questões de segurança rodoviária e garantia ao cumprimento do Protocolo da SADC.
Esta medida surge numa altura em que o subsector de transporte de carga, ainda vive as consequências da proibição de importação em 2011. Nota-se que, depois deste ano, muitas empresas de transporte de carga passaram a registar um crescimento muito lento, tendo boa parte da frota nacional entrado numa situação de obsolência. Como consequência directa desta situação, as empresas concorrentes dos países vizinhos do hinterland ganharam mercado, sobretudo no transporte de carga em trânsito. Actualmente, estima-se que mais de 75% desta carga é feita pelos transportadores estrangeiros.
A restrição, não só teve impactos negativos no sector dos transportes de carga, como, também, no sector portuário, na balança de pagamentos na componente dos transportes e por outro lado, na arrecadação de receitas pelo Estado, porquanto perto de 80% de transporte de carga em Moçambique, é assegurado pelo transporte rodoviário.
Numa altura em que as empresas nacionais devem aumentarem a sua capacidade, investindo na renovação da frota para fazer face ao volume de carga que deve ser transportada internamente no âmbito das actividades dos grandes projectos, a decisão do Governo não mostra um alinhamento no alcance deste desiderato, pois, poderá significar falência de muitas empresas com frota de camiões de volante à esquerda que são a maioria no país.
A predominância deste tipo de camiões ao nível nacional e na região, tem a ver com o custo de aquisição, que é baixo no mercado internacional quando comparado com o de veículos de volante à direita.
A medida do Governo vai afectar sobremaneira as empresas com maior frota de camiões de volante à esquerda. A ser implementada, praticamente vai paralisar a indústria de transporte de carga na região e muitas empresas poderão ir à falência.
O prazo determinado para a conversão, é bastante curto. Em um ano, muitas empresas não conseguirão se ajustar. Como se pode depreender, a conversão para volante à direita acarreta muitos custos, e pode não ser viável para muitos transportadores.
Ademais, ao nível nacional ainda não existe uma indústria que oferece estes serviços, portanto, ainda não existe uma plataforma que assegure que os camiões sejam convertidos. Logo, a ser implementada esta medida, espera-se o desaparecimento da indústria de transporte de carga que ainda é dependente de camiões de volante à esquerda.
Por Domingos Machava
